ÁUREO CORRÊA DE SOUZA

( São Paulo – Brasil )

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VENTOS DO SUL.  Revista do Grupo de Poetas Livres.  Ano VI – no. 23. Julho –              Dezembro, 2004.   Florianópolis, SC: 2004.          Ex. bibl. Antonio Miranda.

CONFIDÊNCIAS DE UM DEFICIENTE

Preso a uma solidão que apavora, sinto uma revolta incontida.
Pelo desígnio de um maldoso destino, que mudou a minha vida.
Destino cego e inclemente, me fez da audição, um deficiente.
Desde então venho clamando aos céus, ao Mestre, ao nosso Criador
Afim de me livrar deste martírio, desta amargura, desta dor.

Por isso minha alma explodindo em imprecações, aos gritos,
Refuta com veemência este sacrifício ingrato e inaudito
De sequer poder ouvi o alegre chilrear dos passarinhos.
Saudando à beira dos seus ninhos, com efusiva alegria.
O romper da madrugada, o raiar do sol, o nascer de novo dia.

Queria ter com as pessoas, uma cordial relação de amigo,
Contudo dialogar, nem pensar: — não tenho condições, não consigo;
Só me resta a solidão como fiel companheira: — meu abrigo:
Visto o destino vir exercitando em mim, o seu go inconsequente,
Procurando apresentar-me com aparência apática, de um ser
[ inconsciente

Meu ideal era ouvir a voz humana com clareza, sem distorção
Como as notas melodiosas, ao se tanger as cordas de um violão;
Ouvir de viva voz alguém declamar com precisão as minhas rimas;
E aí, dominando o espaço, a amplidão do firmamento, as alturas,
Deixar para sempre este mundo de desilusão, angústia e amargura.

*

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Página publicada em abril de 2022